Tuesday, December 19, 2006

A ler

De momento estou a ler a obra literária: Anjos e Demónios do escritor Dan Brown.

A ler

De momento estou a ler a obra literária: Anjos e Demónios do escritor Dan Brown.

Thursday, March 09, 2006

O fogo que na branda cera ardia,

O fogo que na branda cera ardia,
Vendo o rosto gentil que na alma vejo.
Se acendeu de outro fogo do desejo,
Por alcançar a luz que vence o dia.

Como de dois ardores se incendia,
Da grande impaciência fez despejo,
E, remetendo com furor sobejo,
Vos foi beijar na parte onde se via.

Ditosa aquela flama, que se atreve
Apagar seus ardores e tormentos
Na vista do que o mundo tremer deve!

Namoram-se, Senhora, os Elementos
De vós, e queima o fogo aquela nave
Que queima corações e pensamentos.


Luís de Camões

Quem pode livre ser, gentil Senhora,

Quem pode livre ser, gentil Senhora,
Vendo-vos com juízo sossegado,
Se o Menino que de olhos é privado
Nas meninas de vossos olhos mora?

Ali manda, ali reina, ali namora,
Ali vive das gentes venerado;
Que o vivo lume e o rosto delicado
Imagens são nas quais o Amor se adora.

Quem vê que em branca neve nascem rosas
Que fios crespos de ouro vão cercando,
Se por entre esta luz a vista passa,

Raios de ouro verá, que as duvidosas
Almas estão no peito trespassando
Assim como um cristal o Sol trespassa.


Luís de Camões

Tomou-me vossa vista soberana

Tomou-me vossa vista soberana
Aonde tinha as armas mais à mão,
Por mostrar que quem busca defensão
Contra esses belos olhos, que se engana.

Por ficar da vitória mais ufana,
Deixou-me armar primeiro da razão;
Cuidei de me salvar, mas foi em vão,
Que contra o Céu não vale defensa humana.

Mas porém, se vos tinha prometido
O vosso alto destino esta vitória,
Ser-vos tudo bem pouco está sabido.

Que posto que estivesse apercebido,
Não levais de vencer-me grande glória;
Maior a levo eu de ser vencido.


Luís de Camões

Monday, March 06, 2006

O riso

Enquanto quis Fortuna que tivesse

Enquanto quis Fortuna que tivesse
Esperança de algum contentamento,
O gosto de um suave pensamento
Me fez que seus efeitos escrevesse.

Porém, temendo Amor que aviso desse
Minha escritura a algum juízo isento,
Escureceu-me o engenho co'o tormento,
Para que seus enganos não disesse

Ó vós que Amor obriga a ser sujeitos
A diversas vontades! Quando lerdes
Num breve livro casos tão diversos,

Verdades puras são e não defeitos;
E sabei que, segundo o amor tiverdes,
Tereis o entendimento de meus versos.


Luís de Camões

Sunday, March 05, 2006

Busque Amor novas artes, novo engenho

Busque Amor novas artes, novo engenho
Pera matar-me, e novas esquivanças,
Que não pode tirar-me as esperanças,
Que mal me tirará o que eu não tenho.

Olhai de que esperanças me mantenho!
Vede que perigosas seguranças!
Que não temo contrastes nem mudanças,
Andando em bravo mar, perdido o lenho.

Mas, enquanto não pode haver desgosto
Onde esperança falta, lá me esconde
Amor um mal, que mata e não se vê,

Que dias há que na alma me tem posto
Um não sei quê, que nasce não sei onde,
Vem não sei como e dói não sei porquê.

Luís de Camões

Saturday, March 04, 2006

Se tanta pena tenho merecida

Se tanta pena tenho merecida
Em pago de sofrer tantas durezas,
Provai, Senhora, em mim vossas cruezas,
Que aqui tendes uma alma oferecida.

Nela experimentai, se sois servida,
Desprezos, desfavores e asperezas,
Que mores sofrimentos e firmezas
Sustentarei na guerra desta vida.

Mas contra vosso olhos quais serão?
Forçado é que tudo se lhe renda,
Mas porei por escudo o coração.

Porque, em tão dura e áspera contenda,
Fé bem que, pois não acho defensão,
Com me meter nas lanças me defenda.

Luís de Camões

Friday, March 03, 2006

Os sinais...

“Quando encontrares alguém e esse alguém fizer o teu
coração parar de funcionar por alguns segundos, presta atenção:
pode ser a pessoa mais importante da tua vida.
Se os olhares se cruzarem e, neste momento,
houver o mesmo brilho intenso
entre eles, fica alerta: pode ser a pessoa que tu
estás à espera desde o dia em que nasceste.
Se o toque dos lábios for intenso, se
o beijo for apaixonante e os olhos
se encherem de água, nesse momento, percebe: existe
algo mágico entre vocês.

Se o primeiro e o último pensamento do teu dia for essa
pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradece:
Algo do céu mandou-te um presente divino:
O AMOR.

Se um dia tiverem que pedir perdão um ao outro por
algum motivo e, emtroca, receberes um abraço, um sorriso, um afago nos cabelos e
os gestos valerem mais que mil palavras, entrega-te:
vocês foram feitos um pró outro.

Se por algum motivo estiveres triste, se a vida te deu
uma rasteira e a outra pessoa sofrer o teu sofrimento, chorar as tuas
lágrimas e enxugá-las com ternura: poderás contar com ela em qualquer momento
da tua vida.

Se conseguires, em pensamento, sentir o cheiro da pessoa como se ela estivesse ali do teu lado...
Se achares a pessoa maravilhosamente linda, mesmo ela estando de pijamas velhos, chinelos de dedo e cabelos emaranhados...

Se não conseguires trabalhar direito o dia todo, ansioso pelo encontro que está marcado para a noite...
Se não consegues imaginar, de maneira nenhuma,um futuro sem a pessoa ao teu lado...
Se tiveres a certeza que irás ver a outra envelhecendo...
e, mesmo assim, tiveres a convicção que vais continuar sendo louco por ela...
Se preferires fechar os olhos, antes de ver a outra partindo: é o amor que chegou na tua vida.
Muitas pessoas apaixonam-se muitas vezes na vida, mas poucas amam ou encontram um amor verdadeiro.
Às vezes encontram e, por não prestarem atenção nesses sinais, deixam o amor passar, sem deixá-lo acontecer verdadeiramente.
É o livre-arbítrio.”


Carlos Drummond de Andrade

Ser poeta é...

"Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa.
Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


Não tenho ambições nem desejos.
Ser poeta não é uma ambição minha.
É a minha maneira de estar sózinho."


Fernando Pessoa

Moçuela de Bores

"Uma jovem de Bores, em La Lama, fez com que eu me apaixonasse. Eu pensava que o amor me esquecera, como alguém que já há muito cessara de ter aquelas dores que queimam os amantes, mais do que uma chama. Mas vi aquela beleza, tão maravilhosa de se olhar, rosto que seduz, fresca como uma rosa, com tanta cor como nunca vi noutra mulher."

In Moçuela de Bores , allá de La Lama (Século XV)

Transforma-se o amador na cousa amada

Transforma-se o amador na cousa amada,
Por virtude do muito imaginar;
Não tenho logo mais que desejar,
Pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
Que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si sómente pode descansar,
Pois consigo tal alma está liada.

Mas esta linda e pura semideia,
Que, como o acidente em seu sujeito,
Assim co'a alma minha se conforma,

Está no pensamento como ideia;
[E] o vivo e puro amor de que sou feito,
Como matéria simples busca a forma.

Luís de Camões
"Somos castigados por nossas renúncias. Cada impulso que tentamos aniquilar germina em nossa mente e nos envenena. Pecando, o corpo se liberta do seu pecado, porque a ação é um meio de purificação. Nada resta então a não ser a lembrança de um prazer ou a volúpia de um remorso. O único meio de livrar-se de uma tentação é ceder a ela. Se lhe resistirmos, as nossas almas ficarão doentes, desejando coisas que se proibiram a si mesmas, e, além disso, sentirão desejo por aquilo que umas leis monstruosas fizeram monstruoso e ilegal."

Oscar Wilde

Verdes são os campos

Verdes são os campos,
De cor de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração.

Campo, que te estendes
Com verdura bela;
Ovelhas, que nela
Vosso pasto tendes,
De ervas vos mantendes
Que traz o Verão,
E eu das lembranças
Do meu coração.

Gados que pasceis
Com contentamento,
Vosso mantimento
Não no entendereis;
Isso que comeis
Não são ervas, não:
São graças dos olhos
Do meu coração.

(Luís de Camões)

Amor é fogo que arde sem se ver

Amor é fogo que arde sem se ver;
É ferida que dói e não se sente;
É um contentamento descontente;
É dor que desatina sem doer;
É um não querer mais que bem querer;
É solitário andar por entre a gente;
É nunca contentar-se de contente;
É cuidar que se ganha em se perder;
É querer estar preso por vontade;
É servir a quem vence, o vencedor;
É ter com quem nos mata lealdade.
Mas como causar pode seu favor
Nos corações humanos amizade,
Se tão contrário a si é o mesmo Amor?

(Luís de Camões)

Húmus

“Não só os sentimentos criam palavras,
também as palavras criam sentimentos.
As palavras formam uma arquitectura de ferro.
São a vida e quase toda a nossa vida – a razão e a essência desta barafunda.
É com palavras que construímos o mundo.
É com palavras que são apenas sons que tudo edificamos na vida.”

Raul Brandão (1867-1930)

Dúvidas...

"Nunca sei ao certo
Se sou um homem de dúvidas
Ou um homem de Fé
Certezas o vento leva
Só dúvidas, continuam de pé."

(P. Leminsky)

Aquela praia

"De todos os cantos do mundo
lembro com um amor mais forte e mais profundo
aquela praia extasiada e nua
onde me uni ao mar, ao vento e à lua."

(Sophia de Mello Breyner Andressen)

Quem morre?

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música, quem não encontra graça em si mesmo.
Morre lentamente quem destrói o seu amor-próprio, quem não se deixa ajudar.
Morre lentamente quem se transforma em escravo do hábito, repetindo todos os dias os mesmos trajectos,quem não muda de marca, não se arrisca a vestir uma nova cor ou não conversa com quem não conhece.
Morre lentamente quem faz da televisão o seu guru.
Morre lentamente quem evita uma paixão, quem prefere o negro sobre o branco e os pontos sobre os "is" em detrimento de um redemoinho de emoções justamente as que resgatam o brilho dos olhos, sorrisos dos bocejos, corações aos tropeços e sentimentos.
Morre lentamente quem não vira a mesa quando está infeliz com o seu trabalho, quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho, quem não se permite pelo menos uma vez na vida fugir dos conselhos sensatos.
Morre lentamente, quem passa os dias queixando-se da sua má sorte ou da chuva incessante.
Morre lentamente, quem abandona um projeto antes de iniciá-lo, não pergunta sobre um assunto que desconhece ou não responde quando lhe indagam sobre algo que sabe.
Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige um esforço muito maior que o simples facto de respirar.
Somente a perseverança fará com que conquistemos um estágio esplêndido de felicidade

(Pablo Neruda)

Escuridão

"Não te peço nada
Só que não feches a porta e deixes a minha alma no escuro
Praguejando contra Deus"

(Miguel Barbosa)

Tudo e nada...

"Tão cedo passa tudo quanto passa!
Morre tão jovem ante os deuses quanto morre!
Tudo é tão pouco!
Nada se sabe tudo se imagina
Circunda-te de rosas, ama, bebe e cala.

(Omai Senada)

Thursday, March 02, 2006

Pegadas

"Atenta,
atenta nas conquistas da tua força
rasga os novos dias com o que nas fraquezas cresceste.
Brinda com o cálice das tuas lágrimas
ergue-o bem alto.
Nunca, nunca te prendas e grita os sonhos que vais agarrar.
Aguardam-te as nascentes que desejas
descobrir.
Segue sempre o norte das tuas crostas."

In: Pegadas; António Bento


(a gravata do escritor, o livro)

Friday, February 24, 2006

DOBRE

"Peguei no meu coração
E pu-lo na minha mão
Olhei-o como quem olha
Grãos de areia ou uma folha.
Olhei-o pávido e absorto
Como quem sabe estar morto;
Com a alma só comovida
Do sonho e pouco da vida."

Fernando Pessoa, 1913

Falas de civilização...

"Falas de civilização, e de não dever ser,
Ou de não dever ser assim.
Dizes que todos sofrem, ou a maioria de todos,
Com as coisas humanas postas desta maneira,
Dizes que se fossem diferentes, sofreriam menos.
Dizes que se fossem como tu queres, seriam melhor.
Escuto sem te ouvir.Para que te quereria eu ouvir?
Ouvindo-te nada ficaria sabendo.
Se as coisas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as coisas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!"

Alberto Caeiro

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela

Passei toda a noite, sem dormir, vendo, sem espaço, a figura dela,
E vendo-a sempre de maneiras diferentes do que a encontro a ela.
Faço pensamentos com a recordação do que ela é quando me fala,
E em cada pensamento ela varia de acordo com a sua semelhança.
Amar é pensar.
E eu quase que me esqueço de sentir só de pensar nela.
Não sei bem o que quero, mesmo dela, e eu não penso senão nela.
Tenho uma grande distracção animada.
Quando desejo encontrá-la
Quase que prefiro não a encontrar,
Para não ter que a deixar depois.
Não sei bem o que quero, nem quero saber o que quero. Quero só Pensar nela.
Não peço nada a ninguém, nem a ela, senão pensar.

Alberto Caeiro